Poemas (XXXIX): «Was gesagt werden muss» (“O que ten que ser dito”), de Günter Grass


A loucura define o estado sionista de Israel (que non é todo o pobo). Xa tivemos ocasión de ollármolo e vivírmolo en carne propia nos checkpoint da fronteira cando visitamos hai dous anos Xerusalém e iso que nós iamos de turismo. Á súa tradicional hostilidade contra os árabes, singularizada na barbarie contra o pobo de Palestina, hai que engadirlle agora a súa teima contra os escritores que critiquen o seu obsceno militarismo. Sen ir máis lonxe, o estado sionista de Israel (que non é todo o pobo) vén de declarar hoxe persoa non grata ao escritor alemán Günter Grass, autor dun poema que denuncia a política de Israel no seu enfrentamento con Irán ou Persia. A decisión do goberno de Israel, através dun comunicado do seu ministerio do Interior, é consecuencia de que os versos do Premio Nobel de Literatura 1999 acusan ao estado sionista de ameazar a paz mundial pola súa política armamentista. O escritor, de 84 anos, denunciou o programa nuclear de Israel nun texto intitulado “Was gesagt werden muss” (“O que ten que ser dito”), publicado de maneira simultánea polo diario de referencia alemán Süddeutsche Zeitung, o español El País, o italiano La Repubblica (que fixo desaparecer o texto da súa edición na rede) e o norteamericano The New York Times.
Esta bitácora comparte o espírito da creación de Günter Grass, non coma o poeta galego Xosé Luís Franco Grande que hoxe se revolta contra o autor alemán no seu artigo en La Voz de Galicia. Se Günter Grass é un sectario, pois que me anoten na listaxe.
Na páxina da Fundación José Saramago tamén se pode ler o texto en español, mais deseguida reproducimos a versión portuguesa, en tradución de Frederico Füllgraf e que tiramos do seu blogue füllgrafianas.
O QUE TEM QUE SER DITO
Por que guardo silêncio, faz tempo demais me calo,
sobre o que é manifesto e se ensaiava
com simulacros de guerra à qual sobreviveremos,
quando muito, como reles notas de rodapé.
Falo do suposto direito ao ataque preventivo:
este que poderia exterminar o povo iraniano,
subjugado e conduzido à exultação conchavada
por um fanfarrão
porque em sua jurisdição se suspeita
da fabricação de uma bomba atômica.
Mas por que, diabos, me furto a citar o nome
daquele outro país no qual
– apesar de mantido em segredo –
há muito cresce um potencial nuclear,
mas fora de controle, já que
é inacessível a toda inspeção?
A supressão generalizada desse facto
ao qual se submeteu o meu próprio silêncio,
eu sinto-a como mentira opressiva
e coação que ameaça castigar
quem não a respeite;
cá entre nós, o veredicto do “antissemitismo” é assaz popular.
Agora, porém, porque o meu país,
a cada tanto chamado para dar satisfações
de crimes imputados
e que não tinham precedentes,
volta e meia renovadas com leviano sotaque comercial, ainda que
qualificadas de reparação,
entregará a Israel outro submarino cuja especialidade
é direccionar ogivas aniquiladoras
a alvo onde não se provou
a existência de uma bomba sequer,
e ainda que se pretenda aportar como prova o reles temor…
Digo o que tem que ser dito.
Por que, contudo, me calei até agora?
Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma inapagável,
me proibia atribuir este facto, como evidente,
ao país Israel, ao qual me sinto unido
e desejo continuar a estar.
Por que só o digo agora,
envelhecido e com derradeiras tintas:
– Israel, potência nuclear, põe em perigo
uma paz mundial já quebradiça?
Digo porque tem que ser dito
o que dito amanhã poderia ser tarde demais,
e porque – suficientemente incriminados como alemães –
poderíamos ser cúmplices de um crime
que é imprevisível, e vai daí que nossa parcela de culpa
não se poderia apagar
com nenhuma das escusas recorrentes.
E cá entre nós: rompo o meu silêncio
porque estou farto
da hipocrisia do Ocidente; cabe esperar ademais
que muitos outros se libertem do silêncio, exijam
ao causador desse perigo que salta à vista
que renuncie ao uso da força e insistam também
para que os governos de ambos países permitam
o controle permanente e sem reservas
do potencial nuclear israelita
e das instalações nucleares iranianas
por uma autoridade internacional.
Somente assim poderemos ajudar todos, israelitas e palestinianos,
mais ainda, todos os seres humanos que naquela região
ocupada pela demência
vivem, cotovelo contra cotovelo, em inimizade
odiando-se mutuamente,
e finalmente também ajudar-nos a nós mesmos.
Günter Grass

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