Poemas (XXIX): «Bar do acaso», de Rui Costa


Apesarado leo no diario portugués Público a nova da morte do poeta Rui Costa, aos temperáns 39 anos. Reproduzo os primeiros parágrafos:
«O poeta e advogado Rui Costa, que estava desaparecido desde o princípio do mês, foi encontrado morto esta quinta-feira na foz do rio Douro, na Afurada, Vila Nova de Gaia, disseram à Lusa esta sexta-feira fontes policiais.
Rui Filipe Morais Aguiar da Costa, 39 anos, tinha uma leitura de poesia marcada para Espanha, no princípio deste mês, mas não apareceu nem deu qualquer notícia à família.
Fontes policiais assinalaram à agência Lusa que o corpo encontrado na Afurada é o de um homem que caiu ou se terá atirado da ponte da Arrábida no dia 4.
O jovem poeta venceu o prémio de poesia Daniel Faria, com o seu livro A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, editado em 2005 pela Quasi Edições.
Dois anos depois recebeu o prémio Albufeira de Literatura pelo romance A Resistência dos Materiais.
Também no campo da Literatura, “cometeu a proeza” de apresentar uma lista alternativa à direcção do Pen Clube Português em Janeiro de 2009, ao lado dos poetas Rui Lage e Rui Cóias”, contou à Lusa o autor do blog “Da Literatura”, Eduardo Pitta.
Numa entrevista publicada no site http://www.pnetliteratura.pt/, Rui Costa defendeu o poder de resistência do livro face ao crescente primado da tecnologia e da mensagem instantânea.
“O livro sólido, com peso de papel manchado de tinta, continuará a ter sentido enquanto usarmos as mãos que ainda temos”, declarou».
Déixovos un texto metapoético escollido do seu libro A Nuvem Prateada das Pessoas Graves.
BAR DO ACASO
Escrevo, decerto, por qualquer
razão inútil que não vais nunca entender.
Surgem as frases, vês, desconhecidos
que no bar do acaso encontro e são
as tuas mãos a escrever por mim.
Minto-lhes, digo que só te amo
a ti, eles riem e pedem-me pra ficar,
que sim, que a noite ainda é uma pequena
musa no breve altar venal do coração.
Fico. Dou à boca o jeito do cigarro
e é em fumo que transformo o corredor
de imagens, metáforas, pequenos desvios de
ritmo mais pobre ou queda sempre a pique
em sentido nenhum. Às vezes, sabes, é mais
difícil descobrir que o amor, como o cigarro,
quando se acende é que começa
a iluminar o fim.

Esta entrada foi publicada en Poesía. Garda a ligazón permanente.