Poemas (XLVI): «Canto nono», de Tonino Guerra


(Imaxe tirada da páxina da Associazione Culturale Tonino Guerra)
A surrealista historia da desaparición e roubo do Codex Calixtinus tamén serve para ilustrar o desprezo dos frades composteláns pola cultura material e inmaterial que deberían salvagardar (aínda que no meu ideal de sociedade laica iso acontecería ben lonxe dos santos lugares). Teñen unha concepción patrimonialista, mais só no senso de propiedade: O Codex Calixtinus é seu.
E veume á acordanza o fermosísimo poema intitulado «Canto Nono» do chorado poeta italiano Tonino Guerra (1920-2012), que precisamente nos deixou o pasado Día Mundial da Poesía, 21 de marzo. Tonino Guerra é se callar aínda máis coñecido por ser autor de máis de 120 guións. No suplemento Ípsilon, do xornal portugués Público lembraban:
«Nas décadas seguintes irá trabalhar com mais de cinquenta realizadores italianos e estrangeiros, incluindo Antonioni, Bolognini, Damiano, De Sica, Fellini, Marco Ferreri, Monicelli, os irmãos Taviani, Francesco Rosi, Angelopoulos e Tarkovski.
O número de argumentos que escreveu (mais de uma centena) é impressionante, tanto mais que uma considerável percentagem desses trabalhos resultou em reconhecidas obras-primas do cinema, como Amarcord (1973), de Fellini, A Aventura, de Antonioni (1960), ou Nostalgia (1983), de Andrei Tarkovski. Amarcord valeu-lhe, juntamente com Casanova ’70 (1965), de Mario Monicelli, e Blow-Up (1966), de Antonioni, uma das três nomeações que recebeu para os Óscares.
Com Fellini, colaborou ainda em O Navio (1983) e Ginger e Fred (1986), mas os realizadores com quem trabalhou mais regularmente foram Antonioni, para quem escreveu uma dezena de argumentos, Francesco Rosi e, mais recentemente, o cineasta grego Theodoros Angelopoulos, que morreu em Janeiro deste ano e com quem colaborou em sete filmes».
Este «Canto Nono» fai parte do seu libro Il miele (O mel. Rimini: Editore Maggioli, 1981) e conta unha fermosa historia de frades e libros. Reproduzo deseguida o texto orixinal en italiano, a versión ao português que eu teño en O Mel (Assírio e Alvim, 2004, tradução de Mário Rui de Oliveira) e aínda outra de Stefano Strazzabosco en español (que lle dedicou a Gabriel García Márquez, de quen fixera o guión de Crónica de una muerte anunciada para a película de Francesco Rosi).
CANTO NONO
Avrà piovuto cento giorni e l’acqua che si è infiltrata
dietro le radici dell’erba
è arrivata in biblioteca e ha bagnato le parole sante
che stavano chiuse dentro il convento.
Quando è venuto fuori il bel tempo,
Saja-Novà che era il frate più giovane
ha portato con le scale tutti i libri sui tetti
aprendoli al sole perché l’aria calda
asciugasse la carta bagnata.
E’ passato un mese di bella stagione
e il frate stava in ginocchio nel cortile
ad aspettare che i libri dessero un segno di vita.
E finalmente una mattina le pagine hanno cominciato
a frusciare leggere nella brezza del vento,
pareva che fossero arrivate le api sui tetti
e lui si è messo a piangere perché i libri parlavano.
CANTO NONO
Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada
pelas raízes das ervas
chegou à biblioteca banhando as palavras santas
guardadas no convento.
Quando tornou o bom tempo, Sajat-Novà o frade mais jovem
levou os livros todos por uma escada até ao telhado
e abriu-os ao sol para que o ar quente
enxugasse o papel molhado.
Um mês de boa estação passou
e o frade de joelhos no claustro
esperava dos livros um sinal de vida.
Uma manhã finalmente as páginas começaram
a ondular ligeiras no sopro do vento
parecia que tinha chegado um enxame aos telhados
e ele chorava porque os livros falavam.
CANTO NOVENO
A Gabriel García Márquez
Habrá llovido unos cien días y el agua se metió
tras las raíces de la hierba
y llegó a la biblioteca y mojó las palabras santas
que estaban encerradas en el convento.
Cuando salió el sol,
Sajat-Novà quien era el fraile más joven
subió con la escalera todos los libros a los techos
y los abrió al sol para que el aire caliente
secara el papel mojado.
Pasó un mes de buen tiempo
y el fraile estaba de rodillas en el patio
a la espera de que los libros dieran una señal de vida.
Y por fin una mañana las páginas empezaron
a crujir ligeras en la brisa del viento,
parecía que habían llegado las abejas a los techos
y él se puso a llorar por que los libros hablaban.

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