«Passeio pelas rotinas de António Tabucchi»


(Antonio Tabucchi, por Vasco no diário português Público)
A morte do escritor italiano Antonio Tabucchi en Lisboa está a encher moitas páxinas, nomeadamente nos xornais portugueses (aínda moito máis do que nos italianos). E tamén espazos de radio e de televisión. Destes últimos chamounos poderosamente a atención o microespazo «Passeio pelas rotinas de António Tabucchi» emitido pola emisora TSF Rádio Notícias (Lisboa: 89.5 FM | Porto: 105.3 FM), ligada ao Diário de Notícias, pois tiveron a feliz idea de visitar en Lisboa o lugar onde vivía, a Rua do Monte Olivete, para seguir os pasos do escritor pola capital, falando cos seus veciños para tratar de descubrir as rotinas dun «homem distinto». A breve reportaxe da xornalista Cristina Lai Men pódese escoitar nesta ligazón.
E «Na Rua do Monte Olivete» é o título dun fermoso artigo de João Céu e Silva, que no Diário de Notícias fala da casa onde moraba Antonio Tabucchi. Velaquí:
«A casa onde o escritor Tabucchi morava em Lisboa fica numa rua a descer para o rio Tejo e das suas varandinhas lia-se um romance inteiro apenas com o olhar. Roupas a secar ao sol que só ilumina a rua por inteiro durante muito pouco tempo; janelas de madeira desde o rés-do-chão, de onde os mais sem vergonha podiam roubar um saco de batatas ao marçano só com o esticar do braço; portas emperradas a tapar a vida aos velhos que por ali ainda moram, de onde um pontapé certeiro amolga os carros que as entaipam; passeios tão apertados que só os lingrinhas e as misses ali cabem e uma inclinação que deixava qualquer um a arfar. Era uma casa apropriada para se escrever o romance que se via dessas varandinhas, com um número qualquer pendurado na ombreira de pedra cá em baixo, algo escura ainda no primeiro andar, cuja escadaria dava logo para a sala ampla. O chão de madeira coberto com tapetes rangia um pouco e havia que ter cuidado para não se tropeçar na decoração. O escritor Tabucchi gostava de se sentar num dos sofás e falar, sempre chegado à frente, com receio que a posição colada às costas do móvel interrompesse aquele fluxo de ideias que oferecia quando estava a gostar da conversa. De uma entrevista com ele era certo poder-se fazer duas ou três e guardar ainda umas belas frases para um dia como o de ontem em que foi anunciada a sua morte. Mas não vale a pena revolver a gaveta dos blocos para encontrar a última que me deu porque ainda está muito fresca na memória. Como o escritor Tabucchi falou! Do livro em causa, das traduções, dos outros já escritos e dos ainda por escrever; de pensar em português mas não lhe ser fácil escrever nesta língua; da cultura de Portugal, de Itália e de França; da política de cá e de lá, do processo na justiça com o primeiro-ministro cantor. A rua que agora perdeu um dos seus moradores chama-se Rua do Monte Olivete, onde morava o vizinho que ao abrir a janela lia um romance inteiro na vida que passava por aquela calçada de pedra negra».

Esta entrada foi publicada en Narrativa, Radio. Garda a ligazón permanente.