Breizh. Fragmento do Prefácio de António Jacinto Pascoal


(António Jacinto Pascoal e o poeta fisterrán Alexandre Nerium no VI Encontro Internacional de Poetas celebrado en Coimbra en maio do 2007, onde tamén eu fixen parte da delegación galega. Premer na imaxe para agrandar o tamaño)
O meu libro de haikus Breizh xa está nas principias librarías do País. En varios lugares desta bitácora, coma este, xa reproducín algúns poemas e tamén xa se falou do seu azaroso e desafortunado periplo editorial que agora chega á súa fin. E xa contamos aquí que a ilustración para a portada é da autoría do amigo Héitor Picallo. Alén dos haikus, o libro incorpora un Limiar intitulado «Na procura das fisterras atlánticas» e que foi escrito non hai moito por Xosé María Lema Suárez (do que adiantamos un fragmento nesta anotación) e un Prefácio do poeta portugués António Jacinto Pascoal (Coimbra, 1967), quen me convenceu nunha noite de maio do 2007 na fermosa Baixa de Coimbra para escribir un libro de haikus. Foi o seu primeiro lector e soliciteille un prefacio, por iso o seu texto data de 2008, cando o volume ía ser publicado antes de se fanar aquel proxecto. Deseguida reproduzo un fragmento dese metaliterario Prefácio:
(…)
Miro transporta-nos ao país do mar, através de múltiplos labirintos das muralhas, faz-nos andar pelas ruas e cruzar pontes, em sucessivos movimentos do corpo e da alma, tornando espiritual aquilo que é material: em «Petit-Mont» e «Karnag» envolve-nos no espaço psicológico que se cruza com o tempo histórico; em «Gavriniz» materializa a emoção ou, se se quiser, espiritualiza os referentes concretos, concebendo uma larga imagem trágica; com «Pont-Aven» a contabilidade numérica produz um efeito telúrico singular; em «Pleiben (…)» concebe uma metamorfose transcendente, tornando místicas as pedras pelo poder ambivalente do símbolo da (sua?) paixão e encarnação cristãs; com «La Tour Eiffel (I)» concebe um intenso, e aliás invulgar, laudes a Deus, através de uma imagem poética iluminante. Mas na riqueza das suas metáforas, Miro não nos facilita a leitura: na sua deambulação geográfica, com uma orientação se sul para norte (fazendo o percurso circular costeiro, como é possível determinar num mapa), terminando numa Paris disfórica, há uma dualidade que se afasta do simples aspecto contemplativo, mas se inscreve na experiência privada – um certo pathos interior, que se insinua junto ao Sena (símbolo do amor universal) e ao seu estuário (lugar onde tudo acaba, e tudo é “último tango” e ocaso) e neutros textos de leitura ambígua, como «Finistère», ou no indicio inicial de Brel e das epígrafes seguintes – e na experiencia social, como testemunho de uma poética de resistência e de defesa da alteridade – aquela que, tomada por um autor galego (e essa condição, neste caso, já é por si muito significativa), permite registar a relação entre o individual e a cultura dominante, a qual procura impor a linguagem das instituições e da nação hegemónica: a cultura bretã surge excluída perante a massificação, a estereotipia e a organização social da cultura francesa, o que, feitas as devidas ressalvas, se transpõe para o caso galego (sirva de ejemplo o caso de «Bro Bagan», com colagem à causa galega em desassombrada linguagem: “Costa da Morte”). Em suma, Miro aponta-nos dois caminhos, divergentes e convergentes ao mesmo tempo, que se entrecruzam nos seus textos, e parecem traduzir duas experiências de sofrimento: a pessoal e intransmissível, e a social e reproduzível. O suporte da sua linguagem evoca uma longa perda, ainda mal assimilada, de que emergem, como ecos delirantes, “doces conversas”, e regista uma configuração esvaziada da linguagem (obstinada, neurótica, vertiginosa, pungente, mendicante e melancólica), que busca a linguagem perdida, a linguagem da comunicação afectiva. Por outro lado, as referências às incursões nazis na Bretanha parecem constituir-se como violentos símbolos transferíveis do que hoje se passa a outros níveis naquele espaço.
Parca em palavras (o autor segue a severa pauta silábica 5/7/5) mas não em ideias, a poética de Miro Villar aproveita o tempo presente, suspende-o, interroga-o e afirma-o.  Serve-se da cultura ocidental (os músicos, os poetas, os pintores, a história europeia do século XX) para, como se exige do haiku, mostrar aquilo que já deveríamos saber – diz R. H. Blyth que «Haiku shows us what we knew all the time, but did not know we knew» – ou revelar, a uma nova luz, o próximo e afim. Provavelmente, tornando-nos responsáveis.
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António Jacinto Pascoal
Zambujeira do Mar, Julho de 2008

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